Infosaj | Salvador
Iracema Lima tem 44 anos, trabalha como empregada doméstica e mora na comunidade do Alto da Sereia, em Ondina, desde que tinha 3 meses de vida. Nesta segunda-feira (7), ela viu a casa em que vivia com os filhos e um neto cair no mar, descendo pelo barranco. Ela contou ao Correio da Bahia como tudo aconteceu.
Toda vez que eu chego do trabalho passo na casa de minha mãe para conversar e ver como ela está. No dia do desabamento fiz o mesmo. Meu filho também já tinha chegado do trabalho, mas não estava em casa. Minha filha foi para casa de minha mãe quando percebeu que eu estava lá e ficamos todas juntas conversando.
Por volta das 19h, minha filha desceu para fazer uma ligação, foi nesse momento que tudo aconteceu. A gente ouviu um barulho forte. Minha filha subiu correndo, enquanto eu e meu irmão descemos para ver o que estava acontecendo. Quando ele (irmão) tentou abrir a porta da minha casa, ela estalou e os vidros quebraram. Nesse momento, a gente ouviu outro barulho e subimos correndo. Foi por um triz, questão de dois minutos, e tudo desabou.
Até a escada caiu no barranco. A gente levou um susto. A cozinha e a sala foram embora. Só os dois quartos ficaram de pé. Só consegui pegar nossas roupas. Dormi na casa de minha irmã, enquanto meus filhos ficaram com minha tia. Agora, estamos pensando no que vamos fazer. A prefeitura ofereceu aluguel social, fez nosso cadastro, mas ainda estamos vendo o que faremos.
Sinais
Faz seis meses que Iracema voltou para casa com os filhos e o neto. O imóvel estava passando por reforma há mais de um ano e, por isso, a família estava vivendo de aluguel. As intervenções aconteceram depois que uma rachadura surgiu em um dos pisos. Com poucos recursos, a doméstica pagou pouco mais de R$ 1 mil para um pedreiro fazer os reparos e reforçar as vigas.
Mas quando foi há uns oito dias eu estava fazendo faxina e percebei que surgiu uma diferença entre os pisos da sala e do quarto. Eles estavam afastados e não estavam no mesmo nível. Também tinha uma rachadura nova. Ontem (dia do desabamento) vi que a rachadura estava mais afastada, e que as pedras do piso estavam soltando.
As portas estavam empenadas e as janelas inclinaram um pouco. Foi aí que comecei a ficar mais preocupada. A gente nunca pensa que isso poderia acontecer. Construímos em cima de rochas. Eu achava que era seguro, mas não era. Perdi, praticamente, tudo, até minha TV. Ela custou R$ 2 mil e ainda estou pagando. É muito triste perder as coisas assim.
Na hora que eu desci correndo, minha cachorrinha, Cristal, foi atrás de mim. Depois do desabamento nós não encontramos ela, achamos que ela tinha morrido, mas ela sobreviveu. Estava em um pedaço do barranco. Graças a Deus, ninguém ficou ferido.
Vizinhos
A comunidade do Alto da Sereia fica entre o restaurante Sukiyaki e a praia da Paciência, no Rio Vermelho. Uma ladeira seguida de uma escada levam até o conjunto de casas que tem uma das vistas mais bonitas da cidade. Quem mora na região conta que os primeiros habitantes chegaram no local há mais de 50 anos.
A comunidade do Alto da Sereia fica entre o restaurante Sukiyaki e a praia da Paciência, no Rio Vermelho. Uma ladeira seguida de uma escada levam até o conjunto de casas que tem uma das vistas mais bonitas da cidade. Quem mora na região conta que os primeiros habitantes chegaram no local há mais de 50 anos.
Hoje, a comunidade vive um período de especulação imobiliária por conta da localização. Segundo os moradores, é difícil encontrar um imóvel para alugar na região por menos de R$ 800. Por isso, quem tem casa no local está investindo no imóvel. Iracema não era a única que estava fazendo reforma. A diarista Joana Guimarães, 40, e o irmão dela, o segurança Lucas Guimarães, 37, estavam reformando e ampliaram a casa que pertence à mãe deles.
As paredes estão em fase de reboco, as tomadas ainda estão sendo instaladas e o telhado foi substituído por uma laje há alguns meses. Joana estima ter investido quase R$ 10 mil no imóvel. No local, moram a mãe e o irmão dela.
“Agora eles estão morando comigo e meus três filhos, em Tancredo Neves. A casa em que a gente mora é pequena e minha mãe tem problemas de locomoção. Morar aqui (Alto da Sereia) é importante pra ela porque é mais fácil de se movimentar pela cidade”, disse.
O irmão de Joana estava tomando café quando a casa da vizinha desabou. Assustado, ele foi para a casa da irmã. O imóvel não desmoronou, mas ficou com parte da estrutura exposta e foi condenado pela Defesa Civil (Codesal). Parte da casa terá que ser demolida.
Embaixo
Onde antes ficava a casa de Iracema, agora resta uma parede de barro que cede a cada onda mais forte. À direita, ainda há vegetação no barranco. À esquerda, ficam as casas da Rua Pedra da Sereia. O operador de máquinas José Teles, 65, estava em casa e viu quando parte do barranco desceu.
Onde antes ficava a casa de Iracema, agora resta uma parede de barro que cede a cada onda mais forte. À direita, ainda há vegetação no barranco. À esquerda, ficam as casas da Rua Pedra da Sereia. O operador de máquinas José Teles, 65, estava em casa e viu quando parte do barranco desceu.
“Foi um barulho alto. Eu estava na varanda quando o terreno cedeu. Chamei um vizinho e a gente foi ver o que estava acontecendo. Estava muito escuro, mas deu para ver quando a terra desceu. As coisas caindo. Foi um desespero”, contou. No total, a Codesal interditou seis casas, além da que desabou. Os imóveis estão em área de risco e o receio é de que haja novos deslizamentos porque o solo está encharcado.
As sete famílias foram cadastradas por equipes da Secretaria de Promoção Social e Combate à Pobreza (Semps) para receber aluguel social. Na manhã desta terça (8), os vizinhos fizeram um mutirão para carregar e retirar os móveis e outros pertences das casas interditadas. Com o braço cruzado e uma mão no queixo, Iracema observava enquanto os pertences eram amontoados dentro de sacolas plásticas, em uma escada. “Agora, é começar tudo de novo”, suspirou.
O diretor-geral da Codesal, Sosthenes Macedo, informou que os seis imóveis foram interditados pois há risco de novos deslizamentos. “O desabamento pode ter acontecido por uma série de fatores como a ressaca do mar, o sobrepeso provocado por reformas dos imóveis e também pelo descarte irregular de água usada na lavagem de roupas no barranco”, explicou. Fotos: Marina Silva/ CORREIO
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