Na denúncia enviada nesta quarta-feira à Justiça contra o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o Ministério Público de São Paulo pediu sua prisão preventiva. Os promotores também pediram a prisão de Léo Pinheiro e executivos da OAS, além do ex-tesoureiro do PT João Vaccari Neto. O pedido de prisão consta de um anexo da denúncia, cuja íntegra pode ser lida aqui. O caso será analisado pela juíza Maria Priscilla Ernandes Veiga, de São Paulo. Criminalistas consultados pelo site de VEJA explicam que o pedido de prisão feito de forma separada se dá pela necessidade de sigilo, justamente para não afetar a eficácia da decisão judicial. Ou seja, para evitar uma eventual fuga do denunciado.
Segundo o anexo, publicado pelo site jurídico Jota, os promotores acusam Lula de atentar contra a ordem pública ao desrespeitar as instituições que compõem o sistema de Justiça, especialmente a partir do momento em que as investigações do Ministério Público do Estado de São Paulo e da Operação Lava Jato se voltaram contra ele. O Ministério Público alega ainda que, se não for preso, Lula poderia fugir facilmente, além de inflamar a militância para blindá-lo de qualquer investigação. "Os motivos são suficientes para permitir a conclusão de que movimentará ele toda a sua 'rede' violenta de apoio para evitar que o processo crime que se inicia com a presente denúncia não tenha seu curso natural, com probabilidade evidente de ameaças a vítimas e testemunhas e prejuízo na produção das demais provas do caso", diz o MP.
Dilma - Os promotores atacam também a postura da presidente Dilma Rousseff, que nos últimos discursos criticou a Operação Lava Jato e as investigações contra o padrinho político. "A sociedade civil, a imprensa livre e as instituições públicas assistiram, surpresas, a uma presidente da República, em pleno exercício de seu mandato, interromper seus caros compromissos presidenciais para vir a público defender pessoa que não ocupa qualquer cargo público, mas que guarda em comum com a chefe máxima do Governo Federal a mesma filiação partidária", criticam os promotores, que classificaram como "lamentável" a viagem às pressas feita por Dilma para se solidarizar com o ex-presidente. "A presidente da República veio novamente a público externar sua opinião em defesa do denunciado sobre fatos de que deveria se abster, porquanto relativos a decisão judicial relacionada a investigação que não guarda qualquer relação com os atos do governo federal", resume o MP.
Confrontos - A despeito de o ex-presidente ter inflamado sua militância para afirmar que ele nunca se furtou a prestar esclarecimentos à justiça, os promotores evidenciam que o petista "não aceitava ser investigado" e buscou "manobras" para interromper o caso, seja por meio de recursos ao Conselho Nacional do Ministério Público (CNMP) ou de pedido direto contra os investigadores encaminhado à Corregedoria-Geral do MP. "Valendo-se de sua rede político-partidária o denunciado Luiz Inácio Lula da Silva sempre buscou manobras para evitar que a investigação criminal do Ministério Público não avançasse. Sempre tentou ele se valer de terceiras e interpostas pessoas para evitar que tivesse de comparecer na investigação criminal do Ministério Público do Estado de São Paulo para ser ouvido na condição de 'investigado'", registraram os promotores.
Os conflitos e quebra-quebras quando da intimação para que Lula prestasse esclarecimentos sobre possíveis irregularidades do tríplex do Guarujá também foram lembrados pelo MP para embasar o pedido de prisão. "O denunciado se vale de sua força político-partidária para movimentar grupos de pessoas que promovem tumultos e confusões generalizadas, com agressões a outras pessoas, com evidente cunho de tentar blindá-lo do alvo de investigações e de eventuais processos criminais, trazendo verdadeiro caos para o tão sofrido povo brasileiro", acusa o Ministério Público.
Os promotores afirmam que "Lula jamais poderia inflamar a população a se voltar contra investigações criminais a cargo do Ministério Público, da polícia, tampouco contra decisões do Poder Judiciário", mas teria feito exatamente isso ao convocar entrevista coletiva após ser conduzido coercitivamente para ser ouvido em etapa da Operação Lava Jato.
Super-homem - Para o MP, não é razoável dizer que Lula, por ser primário, não precisaria ter a prisão preventiva decretada. "O denunciado se vale de sua condição de ex-presidente da República para se colocar "acima ou à margem da lei.' Assim é que deseja 'ser convidado' para ser ouvido, deseja 'escolher' quem poderá investigá-lo, decide se seus familiares poderão ou não sofrer investigações", relatam os promotores.
No pedido de prisão, os promotores citam o filósofo niilista Friedrich Nietzsche para alegar que o ex-presidente Lula, embora já tenha ocupado o mais alto cargo da administração pública federal, não é um "super-homem" e, portanto, não estaria imune às leis. "Nunca houve um Super-homem. Tenho visto a nu todos os homens, o maior e o menor. Parecem-se ainda demais uns com os outros: até o maior era demasiado humano", descreve o Ministério Público de São Paulo na introdução do pedido de prisão do petista. "Ninguém está acima ou à margem da lei. A lei vale para todos, indistintamente, ricos ou pobres, pouco importando a cor, credo, raça ou profissão", resumem os promotores.
Pedido de prisão - Consultados pelo site de VEJA, criminalistas explicam que o pedido de preventiva não poderia constar da íntegra da denúncia. "Em caso de pedidos cautelares, como a prisão preventiva, o segredo de Justiça pode ser determinado para que a medida seja cumprida satisfatoriamente, já que, de outro lado, a eventual ordem judicial poderia perder sua eficácia. Por exemplo, antes mesmo de o juiz decidir, a defesa já seria capaz de impetrar habeas corpus preventivo", afirma a advogada Sylvia Urquiza, presidente do Instituto Compliance Brasil. "´É de praxe, para não causar qualquer tipo de pressão em cima do juiz. Esta é a formalidade", afirma Daniel Bialski, criminalista e sócio do Bialski Advogados Associados.
(Com reportagem de Rafaela Lara)
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