O marqueteiro João Santana, alvo da 23ª fase da Operação Lava Jato, recebeu 1,5 milhão de dólares, entre julho e novembro de 2014, época em que comandava a campanha à reeleição da presidente Dilma Rousseff. Com base em um documento conseguido via acordo de cooperação internacional com os Estados Unidos, a força-tarefa da Lava Jato identificou que a offshore Deep Sea Oil Corp, mantida pelo suposto operador de propina Zwy Skornicki, repassou três parcelas de 500.000 dólares à offshore Shellbill Finance SA, que seria de Santana.
Ao todo, desde 2013, o marqueteiro recebeu 4,5 milhões de dólares de Zwi, que já é figura carimbada da Lava Jato desde o ano passado. Segundo delação de Pedro Barusco, ele era um dos responsáveis pelo repasse de propina a ex-funcionários da cúpula da Petrobras, como Renato Duque e o próprio Barusco. Zwi é representante do estaleiro Keppel Fels no Brasil, com passagens anteriores pela Odebrecht e pela Petrobras. Ele nega as irregularidades
Aberta no Panamá, a Shellbill mantinha uma conta no banco Heritage, na Suíça. Os pagamentos foram efetuados por meio de duas "contas passagem", sugeridas por Mônica Moura, mulher e sócia de Santana, em um bilhete endereçado ao operador e apreendido pela PF na casa do mesmo. Na mensagem manuscrita, ela indica duas contas no Citibank, uma em Nova Iorque e outra em Londres.
Por meio de acordo de cooperação internacional, os Estados Unidos enviaram os dados da movimentação financeira da Shellbill, que revelaram, além dos valores remetidos por Skornicki, a quantia de 3 milhões de dólares recebida de offshores supostamente ligadas à Odebrecht. Ainda de acordo com o documento, foi possível ver que a maior parte das transações da Shellbill tinham como beneficiário Suria Santana, filha do publicitário.
O principal argumento da defesa do marqueteiro, que deve depor nesta quarta-feira, é declarar que o dinheiro recebido no exterior veio de campanhas que ele comandou fora do Brasil - a sua empresa, a Polis, atuou nas campanhas de Hugo Chavez e Nicolás Maduro (Venezuela), Danilo Medina (República Dominicana), Maurício Fontes (El Salvador), José Eduardo dos Santos (Angola), entre outros. "Basta lembrar que de nove campanhas presidenciais que ele fez nos últimos anos seis foram fora do Brasil", disse o advogado Fábio Tofic Simantob. Segundo ele, Santana dirá "que não tem um centavo de valor recebido no exterior que diga respeito a campanhas brasileiras".
Uma das teses investigação da 23ª fase da Lava Jato é que Santana recebeu no exterior dinheiro oriundo de corrupção da Petrobras por serviços prestados ao PT. Ele comandou as três últimas campanhas presidenciais do partido, que levaram às vitórias de Lula (2006) e Dilma Rousseff (2010 e 2014). No interrogatório, a Polícia Federal provavelmente questionará o publicitário sobre por que o dinheiro veio de Zwi, apontado pelas investigações como um dos principais operadores do petrolão.
"Certo é que se o investigado nega que o recebimento de recursos espúrios no exterior tenha qualquer vinculação com as campanhas eleitorais do Partido dos Trabalhadores, seria ele, então, um mero beneficiário "gratuito" de valores provenientes da corrupção na Petrobras, o que não lhe ilide de responsabilidade penal, pois, conforme já explicado nesta peça, é impossível que João Santana Filho e Mônica Regina Cunha Moura não tivessem conhecimento de que mandavam dados sigilosos, por carta, de uma conta na Suíça não declarada ao Fisco, mantida em nome de uma offshore no Panamá, para um representante comercial de um estaleiro asiático, cujo maior fonte de renda advinha das comissões que ganhava pelos contratos que a empresa que representava tinha com a Petrobras", diz o delegado Felipe Hille Pace, no relatório anexado ao processo.
Após o Partido dos Trabalhadores ter tentado emplacar a tese de que os pagamentos do escândalo do mensalão se resumiram a caixa dois de campanha, procuradores da Operação Lava Jato tomaram a frente para minar a possibilidade de o dinheiro recebido pelo marqueteiro João Santana no exterior ser considerado recursos não contabilizados à Justiça Eleitoral. Para o procurador Carlos Fernando Lima, o caso de Santana "não é caixa dois". "É corrupção", resumiu ele, em coletiva de imprensa na segunda-feira.
Outras transações - O primeiro pagamento da Deep Sea Oil ocorreu em setembro de 2013, também no valor de 500.000 dólares. Outros dois - também de 500.000 dólares - ocorreram em novembro e dezembro do mesmo ano. Em seguida, aparece depósitos em fevereiro, março e abril de 2014, após a primeira fase da Operação Lava Jato. Depois, vieram os três últimos no período da campanha de Dilma.
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