Assim como o Brasil passou à zona cinzenta dos países vistos como caloteiros, ao perder o selo de investimento negado pela Standard & Poor's, a presidente Dilma Rousseff não perdeu, mas ganhou o seu selo: uma espécie de “grau de incompetência”. Ela, no entanto, anunciou no final de semana um corte de 30 secretarias e redução de 20% no corte de custeios. Ainda não é suficiente. O país foi para a berlinda em razão das sucessivas quedas do seu prestígio. Lula passou a se aproximar dela e pouco a pouco emergiu como principal conselheiro para suprir a ineficiência da sua pupila. Fez bem
O ex-presidente recebeu os açoites da crise econômica pelos seus erros desde o início dos seus dois mandatos, e ainda carrega a responsabilidade por decidir sozinho ao ter escolhido Dilma sua sucessora. Elegeu-a com o carisma que ele antes detinha. Agora paga o preço ao ver o PT definhar. Como conselheiro da sua cria, ele emplacou nomes na reforma do ministério anunciado, dentre eles o de Jaques Wagner, e varreu Aloízio Mercadante da chefia da Casa Civil, uma figura indesejada pelo ex-presidente e pelos petistas, de maneira geral. Dilma tentou segurá-lo e perdeu a batalha. Acatou então o desejo dos petistas, Lula à frente.
A presidente continua a mentir como ficou evidente. Não cortou os gastos prometidos, nem diminuiu os tais 10 ministérios que também anunciou. Fez uma espécie de jogo da velha: cortou dez, mas anunciou outras duas novas pastas. No corte de dez e ao gerar duas novas pastas, o resultado ficou na casa de oito. Mentiu nos números temendo cair pelo impeachment, aumentando, numa negociata, a presença do PMDB na sua gestão, de seis para sete ministérios, mesmo que não goste da legenda tida como um calo no seu calcanhar. Foi Lula quem disse a ela que mimasse o partido para evitar complicações à sua permanência no cargo.
A situação de crise do país permanece. A cada mês e a cada semana mais se complica, gerando dificuldades que parecem insanáveis. Já não se sabe onde vai parar. Até o ministro da Fazenda, Joaquim Levi, embora ainda esteja forte, sabe perfeitamente que o pior ainda virá, porque muito pouco foi feito para reduzir os arrepios que têm ocorrido. A crise política perdura e desmantela a capacidade de o Congresso Nacional se articular para tomar decisões que não compliquem o que já está péssimo.
De tal ordem está o segmento político que os congressistas não se entendem e não procuraram saídas para, por exemplo, a manutenção dos vetos da presidente que deveriam ser votados na última quinta-feira. Na primeira votação foram aprovados 26 vetos e restam seis que devem, pressupõe-se, serem votados na próxima semana, um deles referente ao aumento dos vencimentos dos funcionários do Poder Judiciário, que se vingar (é o que Levi alerta) dificultará em muito o ajuste fiscal.
Na última sexta-feira, ao estabelecer o corte em tão-só oito ministérios ao invés de 10, a presidente tentou uma forma de agradar à população sobre os tais cortes de gastos, estabelecendo uma redução de 10% nos vencimentos dos ministros, como se isso fosse significativo. Em diversos municípios do país, inclusive aqui na Bahia, prefeitos estão cortando em 20% os vencimentos dos seus assessores e os deles próprios. Portanto, se trata de um mero jogo de cena da presidente. Os cortes que a população pede é outro, e não um valor inexpressivo. A presidente expressou-se pela miudeza, mas não deixou de haver uma resposta positiva do mercado. Até o momento, o que a população aguarda são cortes nos cargos comissionados presenteados aos políticos, que continuam intactos.
Para não perder o Palácio do Planalto pelo impeachment ela tenta agradar os políticos de sorte a se manter no seu posto. Vem bomba por aí, talvez nesta semana que chega. O relator do Tribunal de Contas da União (e que já era esperado), ministro Augusto Nardes, pediu a rejeição das contas da presidente, e encaminhou seu voto contrário aos demais ministros. É o primeiro voto contra as pedaladas fiscais de Dilma. Se for acompanhado pelos demais pares, a casa poderá cair. Daí o namoro e a negociata com o PMDB para que ela tenha apoio contra o impeachment. Isso se as ruas não gritarem.
* Coluna publicada originalmente na edição deste domingo (4) do jornal A Tarde
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