sábado, setembro 3

Brasil;: Escândalo do mensalão volta a assombrar Lula

Após a era petista no poder ser enterrada com o impeachment de Dilma Rousseff, o ex-presidente Lula terá de lidar com alguns cadáveres insepultos. Além de ter se tornado réu e indiciado no petrolão, Lula agora será investigado pelo ressurreto mensalão. O ex-presidente foi acusado na delação do ex-senador Delcídio do Amaral de ter feito parte de um esquema armado para comprar o silêncio do empresário Marcos Valério, operador do esquema de subornos descoberto em 2005. Esse capítulo da colaboração do ex-parlamentar terá novos desdobramentos nos próximos meses.
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O ministro Teori Zavascki, relator da Operação Lava-Jato no Supremo Tribunal Federal (STF), determinou que o caso seja enviado à Justiça Federal no Distrito Federal, para a apuração dos fatos, e compartilhado com o inquérito em andamento na Corte apelidado de “quadrilhão”, que escarafuncha todo o esquema de corrupção na Petrobras. Essa é a primeira vez em que o petrolão se encontra com o mensalão numa mesma investigação, tendo como elo Lula e o PT.
Teori atendeu a um pedido feito pela Procuradoria-Geral da República (PGR). Em petição enviada ao STF, os investigadores da Lava-Jato solicitaram a apuração do relato feito por Delcídio que se refere à “participação de personagens centrais do Partido dos Trabalhadores, entre os quais o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o ex-ministro Antonio Palocci e Paulo Okamotto, nas tratativas voltadas ao pagamento de valores ilícitos para manter o silêncio de Marcos Valério no denominado caso do ‘mensalão’”.
O ex-senador contou que, quando presidia a CPI dos Correios entre 2005 e 2006, foi procurado por Valério. Naquela ocasião, o operador do mensalão ameaçava entregar o PT se o partido não pagasse uma dívida de 220 milhões de reais, referente aos recursos utilizados para comprar o apoio de parlamentares durante o governo Lula. O assunto, que já era de conhecimento de Paulo Okamotto, braço-direito do ex-presidente, foi levado por Delcídio até Lula, que ficou transtornado. Alguns dias depois, de acordo com Delcídio, Palocci entrou em contato e disse que iria resolver o imbróglio. O ex-senador ainda relata que ouviu dizer que as empreiteiras do petrolão ajudaram a comprar o silêncio de Valério.
O ex-presidente também está sendo investigado em outra frente do mensalão. Os procuradores da Lava-Jato em Brasília estão apurando as acusações feitas por Marcos Valério num depoimento prestado ao Ministério Público Federal em setembro de 2012. Naquela época, o então empresário, condenado a 37 anos de prisão, chegou a negociar uma delação, mas acabou recuando do acordo.
Segundo o operador do mensalão, a empresa Portugal Telecom saldou uma dívida de 7 milhões de dólares de campanhas do PT. A transação foi realizada no exterior por meio de fornecedores da companhia de telecomunicação sediados em Macau. Como prova, Valério entregou quatro folhas com dados de contas bancárias fora do Brasil, que teriam sido utilizadas pelo PT para quitar despesas das eleições de 2002 e 2004.
A Polícia Federal e o MPF instauraram um inquérito para checar as acusações feitas por Valério, que se recusou a prestar novas informações. Após três anos, concluíram que seria inviável avançar nas pistas dadas pelo empresário, pois os fatos eram antigos – e pediram o arquivamento das investigações. No entanto, o juiz Ricardo Augusto Soares Leite, da 10ª Vara federal em Brasília, determinou que o caso fosse retomado.
De acordo com o magistrado, há contradições nos depoimentos dos suspeitos e algumas dúvidas que ainda precisam ser esclarecidas. Por isso, determinou uma série de novas diligências. O processo foi direcionado aos procuradores do grupo de trabalho da Lava-Jato, que devem utilizar as informações levantadas ao longo do inquérito para aprofundar as investigações sobre a conexão entre o petrolão e o mensalão.
No próximo dia 12 de setembro, Marcos Valério deverá prestar depoimento ao juiz Sergio Moro, responsável pelos processos da Lava-Jato em Curitiba. O operador do mensalão será questionado sobre o empréstimo de 12 milhões de reais feito entre o pecuarista José Carlos Bumlai, amigo de Lula, e o banco Schahin.
Segundo o próprio Valério declarou ao MPF em 2012, uma parte dos recursos foi utilizada para comprar o silêncio de Ronan Maria Pinto, empresário que ameaçava envolver dirigentes do PT com o assassinato do prefeito de Santo André Celso Daniel, em janeiro de 2002. Investigadores da Lava-Jato acreditam que, de um jeito ou de outro, todos esses esquemas estejam relacionados entre si — e sob o comando de Lula, que nega as acusações.

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